segunda-feira, 14 de maio de 2012

MALEF DESABAFA, APONTA O DEDO AOS BLOGGERS, RAPPERS, MANAGERS E ACONSELHA O RAPPER MATA FRAKUXZ A NÃO SE APOIAR AO MOVIMENTO HIP HOP QUANDO QUISER SE MOSTRAR CONTRA O REGIME | NEWS


O rapper Malefuck, Papa Giboia, Malepetilo ou Malala como também é tratado, revela de forma destemida em entrevista a Society News que os novos discos de Sandocan e do Yanick estão a ser travados pelo Regime, além de afirmar categoricamente que a inveja domina o Movimento Hip Hop, citando nomes para exemplificar. Mais além desabafa que os Blogs, outrora criados como alternativa para facilitar a divulgação da música rap face aos bloqueios dos meios convencionais, estão monopolizados e traça estratégias de como dialogar com o Presidente da República, lançando mais uma vez duras críticas ao rapper Matafrakuz.

Por: Preto Misterinha

pretomisterinha@hotmail.com

Society News (SN): Qual é a sua opinião sobre a actual situação do Hip-Hop?

Malef: Muita gente diz que ama o hip-hop, mas no fundo cada rapper tem inveja do outro, do que se nota hoje em dia, já ninguém é sincero nas suas opiniões sobre a música do outro. Desta forma, além das barreiras que outras pessoas fora do movimento estão a colocar, nenhum rapper vai fazer sucesso aqui porque a inveja de um rapper ultrapassa a de uma mulher quando apanha seu parceiro com outra.

Mas os que agravaram tudo isso são os filhinhos de papá [Corean Dú] que começaram a cantar e os rappers que se tornaram radialistas [Big-Nelo e Kool Klever]. Estes, é que fizeram com que a discriminação no rap tomasse a proporção em que se encontra actualmente. Dizem, por exemplo, que não entendem o que canto, mas gostam e tocam nos seus programas músicas, muitas delas com ofensas explicitas do Lil Wayne”. Prova desta inveja, falsidade e mentiras a mistura que tomaram conta do movimento Hip-Hop, são os blogs, Muitos deles foram criados com o propósito de impulsionar o movimento, mas fruto dos bloqueios que os próprios rapper se fazem muitos blogs estão monopolizados, publicam “Cenas que Curto” de alguns e de outros já não.

SN: Há ajuda mútua entre os rappers?

Malef: Portanto, nota-se claramente que muitos rappers que têm blogs só promovem as suas músicas, assim como os “managers” que só promovem os seus músicos, o grande exemplo disto é o Dj Samurai o CEO da MadTapes. Ele demonstra que é um verdadeiro Samurai com as suas estratégias de marketing para lançar seus artistas e desta forma qualquer rapper que ele abrace, desde que cante bem, será sempre um sucesso. Antes o Samurai fazia isso com todos, mas actualmente só faz com os seus rappers, portanto o Fly Skuad embora seja um rapper da New School, tem tudo para vender muitos discos. Além destas barreiras entre os próprios rappers, de outra forma, noto também que o Hip-Hop está a ser combatido pelo Kuduro, a muito contestado, mas anda sim é prematuro dizer que o Hip-Hop está morto. De facto, noto que há uma disputa acérrima entre kudurista e rappers, entretanto tudo indica que vai chegar uma altura que o kuduro vai se afundar e vão nos deixar com o nosso Hip-Hop.

SN: Acha que a sua música com o Fat Joe teve a aceitação que esperava?

Malef: Para ser sincero não, eu me considero como um talento perdido em África e esperava que a música fosse mais consumida, principalmente nos midias. É uma música que comprou um beat passamos horas no estúdio para escrever e gravar, participou um vedeta da música norte americana, e sinceramente espera que os nossos radialistas dessem mais valor ao que é nosso do que ficar a tocar música do Lil Wayne carregada de mensagens implícitas. Alguns radialistas descarados, que não adianta citar nomes, dizem que não tocam minhas músicas porque não entendem o que canto. Mas acho que é por ser rap porque o remix de Cabo Snoop com Fat Joe teve uma aceitação diferente da minha, mas o Fat Joe só participou naquele remix porque pensou que é homenagem a sua música Lil Buck.

SN: Qual é média de espectáculos em que participa por mês?

Malef: Muito poucos, mas para contrariar esta realidade tomei a iniciativa de realizar meus próprios espectáculos, pelo menos duas ou três vezes por mês realizo um show meu e convido outros rappers amigos. Mas, isso permitiu-me descobrir uma mania que os rappers angolanos têm. Meus irmãos temos que parar com esta fobia de que o espectáculo como custa 100 kwanzas não vou pagar porque também sou cantor, porque um dia quando for a tua vez outro músico também vai querer ir ao teu sem pagar e isso deita de fora o investimento que fazemos para realizar estes eventos, todos sabem que hoje nada é feito de graça.

Quando o rapper realiza um show outros rappers não aparecem por não querer pagar e vice-versa, o mesmo acontece quando se trata de venda de CD. Mas isso não acontece entre os kudurista porque quando Puto Lila vende seu disco o Nagrelha vai comprar. Assim como no Semba e na Kizomba, os músicos compram o ingresso e vão ao espectáculo do outro, não há complexos de que também canto Kizomba ou Semba por isso é que só vou a show se for de favor. Portanto falta esta união entre os rappers angolanos, mas particularmente os de Luanda porque quando vamos nas províncias os rapper locais compram os ingressos para ver o show.

SN: Considera os rappers pobres?

Malef: Afirmo categoricamente que não, temos que parar de passar a mensagem de que os rappers são pobres porque nós é que iniciamos com as capas de Cds bonitas, misturas e masterização das músicas, além dos videocipes de qualidade, hoje em dia se isso se estendeu até ao Semba, Kizomba e ao Kuduro graças aos rappers.

SN: Como é você se define?

Malef: Não sei até aonde quero chegar, mas de uma coisa tenho a certeza, há muita gente nas mesmas condições que eu e pode não ser agora, mas um dia terei seguidores que vão levar avante as minhas ideologias. Tornei-me num Revolucionário, mas quando digo que sou revolucionário não é para falar mal do Governo. Eu não sou Undreground nem revulucionario, eu sou Hardcore, ou um Underground pelo espírito. Não sou Underground como pensam do Kid-Mc porque para mim este rapper é um autêntico comercial.

“MATAFRAKUZ PASSOU DOS LIMITES”

Depois das manifestações algo preocupa-me e feri-me todos os dias, e quero aproveitar para dizer a outros rappers quando decidirem contrariar as políticas do presidente, caso tenham mesmo a coragem que dizem ter, dirijam-se ao Futungo, Miramar, Morro da Luz ou Cidade Alta, chegam num destes sitio batam a porta e digam que querem falar com o presidente, pois é lá onde podem encontra-lo e peçam para falar com ele individualmente, não é aproveitar num espectáculo de Hip-Hop, ao ponto de envolver outras pessoas.

Quando um rapper decide fazer manifestação não engloba o Movimento Hip-Hop todo. Todos nós já sabemos que os puros bandidos estão no poder e deixa-me sublinhar que não é um poder de brincar, porém, Matafrakuz, quando quiseres contrariar o regime, não se apoie aos rappers, aliás quero também te fazer lembrar que os fãs dos rap são traiçoeiros, apoiam num momento, mas no outro não querem saber de ti.

Entretanto, na minha opinião, devias, e deve sempre que quiser, manifestar-se como cidadão comum e não apoiar-se ao Movimento Hip-Hop porque estamos a verificar que todos rappers, sem excepção de ninguém, estão a ser afectados pelas consequências da tua irresponsabilidade. Eu, por exemplo, nunca falei mal do Governo ou de um governante nas minhas músicas, embora nas vestes de cidadão reclamo várias vezes quando falta luz ou água, mas também fui proibido de passar na TPA a nas rádios do grupo RNA.

Além de mim, outros rappers como Sandocan e o Yanick estão a ser afectados com o impedimento do lançamento das suas obras discográficas, até os potenciais patrocinadores receberam ordens para não apoiar ninguém. O disco do Yanick até agora estaria a tocar se não tivesse tirado a música contra os mulatos, a barra pelas músicas deste rapper começou com o boicote no show da Unitel, portanto estes são exemplos com os quais devemos aprender.

A título de exemplo, fui pedir patrocínio à editora Milionário, mas disseram-me que para este ano não estão apoiar rap, encontra-se numa lista negra por isso a editora não lança discos de rappers. Prova do que estou a dizer e do mau momento que a música rap atravessa é o Festival Internacional de Hip Hop que foi realizado depois do Festival Internacional I Love Kuduro. Este último teve todos apoios possíveis até a cobertura em direito na Televisão Pública de Angola, mas o Festival Internacional de Hip Hop, onde sei que investiram mais de 80 mil dólares norte-americanos não mereceu a mesma cobertura, tendo como resultado a pouca aderência e como consequência o desperdício das verbas investidas.

SN: Onde está o respeito pelas ideologias de outrem?

Mas, entretanto não condeno a atitude do Ikonoclasta, mas ele não podia apoiar-se ao movimento rap para fazer o que ele fez, senão daqui a pouco teremos também o Akwá a mobilizar os futebolistas para se manifestar, e se assim for vamos ver também a bloquearem o Girabola e o Bento Kangamba deixará de ter uma equipa de futebol. Eu não tenho nada contra o Governo porque a minha vida não depende deles, a vida é tão curta que temos que aproveitar vive-la, portanto se eu entrar nesta brincadeira de manifestações vou assustar daqui a pouco tenho 50 anos e não fiz nada de jeito na minha vida.

Por isso meus irmãos aconselho que ao acordar de manhã quem vai pedir emprego ou patrocínio vai, porque na minha opinião ainda não é altura de reclamar porque há uma esmagadora maioria que não paga regularmente os impostos nem pelo consumo da água e da energia.

Há muita gente nos escritórios que nunca estudaram nas áreas em que trabalham, mas ainda assim, há muitos também que reclamam de que o Governo não dá nada, mas as casas onde vivem receberam do regime.

Isso é como diz a velha máxima de que enquanto os leões não tiverem um historiador os caçadores vão sempre dizer que são eles que descobriram a selva. Ou seja, se não sabermos como andar e defender nossos direitos pessoais eles vão sempre nos comandar porque só eles que têm tudo. Se és pobre luta para ser rico, mas não luta pisando nos outros.

Este sistema já encontramos, vamos deixar, mas vai chegar uma altura que vai acabar, portanto não vamos estragar o rap porque é o meu ganha-pão e de muita gente, há pessoas como eu que além do rap não sabem fazer mais nada.

Fonte: http://www.musicnewsangola.blogspot.com/

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