Um MC que começou no underground e ganhou uma magnitude dentro da comunidade Hip-Hop, através da sua mensagem. Está a preparar um dos álbuns mais esperados de sempre, ”Homo Libero”. Nesta entrevista, falamos sobre o novo álbum, os produtores, o estado do Hip-Hop Nacional, a influencia da internet e muito mais.
1. Mano, comecemos pelo teu album. Sempre deixaste uma informação aqui e ali sobre o Homo Libero, mas nao temos bem a noçao do que se passa. Em que ponto está? Quais serao as grandes surpresas deste album para uma espera tao longa?
Não há nenhuma grande surpresa. A cena é que eu até 2009 estive a fazer um álbum chamado “360 Graus”, é um álbum duplo também. Esse iria ser o meu 3º álbum. Era um álbum conceptual onde todas as músicas tinham narrativas que acabavam no sítio onde começaram. Esse álbum está pronto e nem sei o que vou fazer com ele, está na gaveta, porque depois abracei essa filosofia do Homo Líbero e quis fazer um álbum ligado a esse conceito do Homem Livre, da Liberdade e do meu conceito de Homem Novo. O Homo Líbero comecei a fazê-lo em 2009. 2010 foi um ano terrível para mim, porque estive quase sempre no Hospital, tenho uma má ligação entre o sistema nervoso central e o coração, e essa merda estava a despoletar todo o tipo de reacções violentas no meu corpo.
2. Nave será o produtor de quase metade do album. Porquê Nave e não Sam The Kid, que sempre te acompanhou desde o dia 1?
Em primeiro para perceberes a minha admiração por esses 2 produtores, actualmente os meus 5 produtores favoritos no mundo são No ID, Just Blaze, DJ Khalil, Nave e Sam The kid. O Nave e o Sam estão entre os meus produtores favoritos de todo o mundo. O Nave vai produzir 70/80% do álbum, isto porque eu sempre quis fazer álbuns todo ou quase todo produzidos por uma só pessoa. O Nave tem um tipo de peso e de grave nos beats e depois uma mix entre soul, funk e música brasileira que é exactamente o tipo de sonoridade que eu quero para este álbum. Também terei beats do Sam, mas para este álbum estou a ver algo mais dominado pelo Nave.
Eu desde sempre quis ter esse conceito de 1 mc 1 produtor. O “Educação Visual” era para ser todo produzido pelo Kilú. O mano pediu-me para ficar com uma percentagem dos lucros do álbum que eu achei alta e por isso não tivemos acordo. Mas hoje estou arrependido, adorava ter feito aquele álbum todo com o Kilú e para a genialidade dele, a percentagem que ele me pediu era mais do que justa. O “Serviço Público” era para ser todo produzido pelo Sam The Kid, só que na mesma altura o mano estava a fazer o “Praticamente” e não conseguia desdobrar-se a fundo em 2 projectos. Sam é dos meus amigos mais antigos, estamos juntos desde 97, é um irmão mesmo, é Canal 115 como o Bónus e o Adamastor, vai ter sempre beats nos meus álbuns e de certeza que vamos concretizar esse projecto com ele a produzir um álbum todo para mim. Acredito que isso até vá acontecer muito em breve.
Eu desde sempre quis ter esse conceito de 1 mc 1 produtor. O “Educação Visual” era para ser todo produzido pelo Kilú. O mano pediu-me para ficar com uma percentagem dos lucros do álbum que eu achei alta e por isso não tivemos acordo. Mas hoje estou arrependido, adorava ter feito aquele álbum todo com o Kilú e para a genialidade dele, a percentagem que ele me pediu era mais do que justa. O “Serviço Público” era para ser todo produzido pelo Sam The Kid, só que na mesma altura o mano estava a fazer o “Praticamente” e não conseguia desdobrar-se a fundo em 2 projectos. Sam é dos meus amigos mais antigos, estamos juntos desde 97, é um irmão mesmo, é Canal 115 como o Bónus e o Adamastor, vai ter sempre beats nos meus álbuns e de certeza que vamos concretizar esse projecto com ele a produzir um álbum todo para mim. Acredito que isso até vá acontecer muito em breve.
3. Alguns concertos estão a ser preparados, inicialmente um seria no Coliseu, com preços elevados e houve algumas criticas quanto a isso com alguns fãs a demonstrarem o seu desagrado por esta atitude. Qual é a resposta a este tipo de critica?
4. Como se mantém uma atitude underground, quando o álbum Homo Libero vai ser lançado por 4 grandes editoras, em países diferentes (brasil, angola, tuga e moçambique)? Não existiram quaisquer exigências por parte destas editoras? as condições que te ofereceram são justas para um artista que antes era independente?
Só haverá uma editora grande e será em Portugal. Nos outros países serão editoras independentes. E a editora em Portugal será a Valentim de Carvalho que fez uma parceria com a Horizontal. Eles nem sequer ouvem o álbum até estar pronto e depois de pronto nem opinam. A Parte deles é editar e distribuir o disco. Hoje em dia em Portugal, as editoras precisam muito mais dos artistas do que vice-versa. Eu só fiz este acordo porque quero só me concentrar na música e não me quero desgastar com toda a outra parte de edição, promoção e distribuição . E tive a sorte de arranjar a melhor editora em Portugal para fazer esse trabalho. È a editora mais antiga no país, editou a maioria dos melhores discos da história da música Portuguesa, tem uma estrutura ultra-profissional e estão preocupados em associar-se a artistas genuínos. Dificilmente verás a Valentim de Carvalho a trabalhar com Boys Bands ou Música Pimba. Só para veres eles têm Orelha Negra na editora.
5. Quais são as tuas preocupações com o numero de vendas? Se as metas estipuladas não se cumprirem, como será a tua reacção e como reagirão essas mesmas editoras em quem estas a apostar?
Sinceramente só gostava que o álbum pudesse estar no Top Nacional de vendas pelo menos durante a primeira semana. Isto porque em toda a História do HipHop acho que nem tivemos 5 álbuns que conseguiram esse objectivo. E hoje o HipHop é dos movimentos culturais e musicais mais fortes, então essa entrada do Homo líbero para o Top Nacional seria muito simbólica. Quanto ao resto estou-me a cagar
5. Quais são as tuas preocupações com o numero de vendas? Se as metas estipuladas não se cumprirem, como será a tua reacção e como reagirão essas mesmas editoras em quem estas a apostar?
Sinceramente só gostava que o álbum pudesse estar no Top Nacional de vendas pelo menos durante a primeira semana. Isto porque em toda a História do HipHop acho que nem tivemos 5 álbuns que conseguiram esse objectivo. E hoje o HipHop é dos movimentos culturais e musicais mais fortes, então essa entrada do Homo líbero para o Top Nacional seria muito simbólica. Quanto ao resto estou-me a cagar
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6. Com uma carreira com mais de 10 anos e 2 álbuns que são duas grandes referências, que tipo de coisas se aprende para não cometer erros num terceiro álbum que todos esperam ser um clássico Como reages ao peso da palavra ” clássico”?
O problema que eu tinha até há pouco tempo era a obsessão de querer fazer um álbum que superasse o anterior. Hoje consegui livrar-me disso, só tenho que fazer música que eu goste e mais nada. O álbum chama-se Homem Livre e tem muito a ver com essa filosofia de seguires só o teu instinto. Faz o que te apetece fazer, só existe o presente. Estou a conseguir criar sem pensar no passado nem no futuro. Acredito que assim tudo sairá mais espontâneo. Que se foda se é clássico ou não, o importante é que tu sintas os sons.
7. Passo agora à nova escola. Tivemos uma época de ”ouro” entre os anos 1999 e 2005, mais ou menos. Eu pessoalmente nunca senti de volta essa sensação que o rap tinha nessa altura. Que rappers actualmente tu destacarias que tenham a capacidade de nos oferecer esta nostalgia de novo?
As pessoas às vezes esquecem-se que alguns dos rappers que elas mais gostam já rimam há 10, 15 anos. Ao contrário de muito gente eu acho que a nova escola é muito boa. E alguns rappers da nova escola vão conseguir fazer coisas muito importantes no rap tuga. A tendência é irem ficando cada vez melhores. Rappers que já têm algum destaque hoje, daqui a 2, 3 anos estarão mais fortes ainda. O Futuro do rap tuga está garantido. Nem vou destacar nomes porque são muitos. Mas agora está a acontecer uma cena espectacular Tens um rapper como o Jimmy P que não tem álbum e que já consegue estar em festivais muito importantes, tens um gajo como o Halloween que nunca toca na rádio nem passa na TV e já faz concertos de norte a sul do país, o Deau antes de ter álbum já era uma super-estrela no norte. Isto é fantástico, agora tens manos a conseguir chegar a muita gente sem suporte nenhum da comunicação social. Só com internet, buzz. Por isso estão reunidas todas as condições para os rappers que se destacarem mais da nova escola brilharem e viverem da música, até sem álbuns, sem editoras e sem apoio dos media. Esta Era da internet permite isso.
8. Estamos numa era em que a internet permite o lançamento de trabalhos online, nem todos com boa qualidade; os downloads, os comentadores anónimos tantas vezes chamados de haters. Veio ajudar ou prejudicar? Qual a tua posição em relação a isso?
A única cena fodida nisso tudo são os comentadores anónimos. Para um miúdo que está a começar, receber uma dose de críticas destrutivas pode ser fatal. Conheço muitos manos que desistiram de fazer rap quando puseram as primeiras músicas na net. Se tu não tiveres pessoal para te dar auto-estima e apoio psicológico tens que ser mesmo muito forte para aguentar essas primeiras críticas. É como pores um miúdo de 17, 18 anos a jogar na equipa principal do Benfica e que nos primeiros jogos é assobiado. No jogo seguinte ele até pede ao treinador para não jogar.
7. Passo agora à nova escola. Tivemos uma época de ”ouro” entre os anos 1999 e 2005, mais ou menos. Eu pessoalmente nunca senti de volta essa sensação que o rap tinha nessa altura. Que rappers actualmente tu destacarias que tenham a capacidade de nos oferecer esta nostalgia de novo?
As pessoas às vezes esquecem-se que alguns dos rappers que elas mais gostam já rimam há 10, 15 anos. Ao contrário de muito gente eu acho que a nova escola é muito boa. E alguns rappers da nova escola vão conseguir fazer coisas muito importantes no rap tuga. A tendência é irem ficando cada vez melhores. Rappers que já têm algum destaque hoje, daqui a 2, 3 anos estarão mais fortes ainda. O Futuro do rap tuga está garantido. Nem vou destacar nomes porque são muitos. Mas agora está a acontecer uma cena espectacular Tens um rapper como o Jimmy P que não tem álbum e que já consegue estar em festivais muito importantes, tens um gajo como o Halloween que nunca toca na rádio nem passa na TV e já faz concertos de norte a sul do país, o Deau antes de ter álbum já era uma super-estrela no norte. Isto é fantástico, agora tens manos a conseguir chegar a muita gente sem suporte nenhum da comunicação social. Só com internet, buzz. Por isso estão reunidas todas as condições para os rappers que se destacarem mais da nova escola brilharem e viverem da música, até sem álbuns, sem editoras e sem apoio dos media. Esta Era da internet permite isso.
8. Estamos numa era em que a internet permite o lançamento de trabalhos online, nem todos com boa qualidade; os downloads, os comentadores anónimos tantas vezes chamados de haters. Veio ajudar ou prejudicar? Qual a tua posição em relação a isso?
A única cena fodida nisso tudo são os comentadores anónimos. Para um miúdo que está a começar, receber uma dose de críticas destrutivas pode ser fatal. Conheço muitos manos que desistiram de fazer rap quando puseram as primeiras músicas na net. Se tu não tiveres pessoal para te dar auto-estima e apoio psicológico tens que ser mesmo muito forte para aguentar essas primeiras críticas. É como pores um miúdo de 17, 18 anos a jogar na equipa principal do Benfica e que nos primeiros jogos é assobiado. No jogo seguinte ele até pede ao treinador para não jogar.
9. Apesar de o rap tuga parecer estar estar em ”grande”, com vários lançamentos, sempre sangue novo a surgir, temos uma lacuna gigante na nossa cultura, que é a falta de rádios (existem poucas), e revistas. Sobram os sites, que tem projectado ainda mais o nosso rap. És um leitor assíduo de sites? Quais seriam os sites, na tua opinião que merecem destaque como meios indispensáveis de informação? (sites de língua portuguesa)
Hoje a internet é tudo mano, quase não precisas de rádios , nem revistas. Vejo HipHopSouEu claro, HipHopulsação, Primouz, Blog da Nicolau, CenasQueCurto, LusoHipHop, TrackCheio… acho que esses são os que visito mais.
10. Deixo aqui como ultima pergunta, que mensagem gostarias de deixar aos novos ouvintes de rap e aos novos mcs da nova escola, para mantermos o hiphop puro e sem opressões de grandes editoras e rádios generalistas? Qual é o teu conselho?
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