terça-feira, 8 de março de 2011

VALETE FALA DA SUA PARTICIPAÇÃO NO PROJECTO "DIVERSIDAD"

TEXTO ESCRITO POR VALETE PARA O SITE H2TUGA...

ValeteValete

"Fiquei muito lisonjeado com o convite para fazer parte deste projecto. Projecto de gente séria, muito bem organizado e orientado.

Gravámos o álbum de Diversidad em 10 dias. 16 faixas em 10 dias (duas ficaram de fora). Por sermos 14 MCs (mais a Mariama, nossa cantora de serviço), pensei que os temas de Diversidad seriam como muitas das músicas de Wu-Tang. Ou seja, músicas onde cada MC rima sobre o que lhe apetece e que, por isso, tematicamente acabam sempre por resultar numa barafunda completa.

Fazer músicas com vários MCs é sempre muito difícil. É difícil manter a organização temática e muito difícil manter o equilíbrio estético.

Esse perigo foi ultrapassado com a inteligência de se escolher temas abrangentes, que permitiam a quem escreve não ficar limitado na abordagem do tema, ainda mais quando cada MC nunca podia escrever mais do que 16 barras. Por exemplo no tema “Slow Down” (“Acalma-te”) era possível falar sobre várias perspectivas que abordassem momentos de exaltação ou descontrolo. Quase todos os temas, por não serem muito específicos, permitiram aos MCs ter esse conforto sobre qual a direcção a escolher dentro da proposta temática.

Supostamente o Akhenaton (IAM) seria outros dos MCs deste projecto, e também o produtor executivo do álbum. O mano não pode vir, porque os nossos dias de gravação coincidiram com os dias de promoção do livro que ele tinha acabado de lançar em França. O Curse assumiu juntamente com o Spike Miller a produção executiva do álbum, e fizeram-no com uma mestria impressionante.

Ganhei uma admiração muito grande pelo Curse. Mano muito sensato, muito ponderado e, como MC, muito completo. É um MC com um grande flow e que também consegue ser muito inteligente e muito cerebral. Do tipo de MC raro. Não percebo alemão, mas no Diversidad todos os MCs tiveram que traduzir as suas letras para inglês e assim já era possível ter uma noção do que é que cada um falava.

Criei com o Curse grande empatia, falávamos sobre vários assuntos, debatemos vários temas, e o mano chegou mesmo a fazer-me uma homenagem num som chamado “Stop”, que infelizmente ficou fora do álbum, porque na mesma altura um rapper francês tinha lançado um single com o mesmo tema e a mesma abordagem.

No projecto Diversidad encontrei personagens fantásticas, do melhor que eu já vi e ouvi no rap europeu. O GMB é um artista de excepção. Rapper e cantor, com uma capacidade sobrenatural para criar melodias e refrões, e que soa sempre bem em cima dos beats. Ouvi cenas do mano rimadas em crioulo (ele é holandês, mas filho de cabo-verdianos), e posso mesmo dizer que é dos melhores rappers que eu alguma vez ouvi a cuspir em crioulo.

Mariama, sinto mesmo que vai ter uma carreira brilhante. Nascida na Serra Leoa e residente na Alemanha. A sistah tem o swing africano harmoniosamente mixado com a disciplina alemã. É quase sempre tecnicamente perfeita no canto, tem uma facilidade brutal para criar melodias e ainda é uma fantástica letrista e compositora. Tem tudo.

homie Nach já conhecia e já tínhamos uma ligação antes do projecto Diversidad. Foi muito bom ter estado com ele em Bruxelas e ver o mano no estúdio, ver as técnicas de dobragens  que usa, ver a experiência com que grava. Sempre super competente.

Em 10 dias criámos um grupo muito forte. Muita amizade, grande companheirismo. Diversidad é hoje muito mais que um projecto musical e cultural, é uma rede fortíssima de laços humanos.

Senti-me muito acarinhado lá, eles gostavam muito de ouvir palavras e rimas em português. Diziam que a língua portuguesa soava muito bem musicalmente, e por isso acabei mesmo por ser o MC que participou em mais músicas do álbum. Entrei em 7 das 14.

Nos próximos meses vamos apresentar este projecto ao vivo em várias cidades europeias, e será certamente uma grande experiência que me tornará mais rico e mais sábio".

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