domingo, 26 de setembro de 2010

Entrevista Youth Kriminals

Os Criminal Família estiveram pela primeira vez, em Coimbra. O grupo actuou na discoteca Via Latina. Os membros do movimento underground, Allen Halloween, Maliman e Buts Mc falam das expectativas em relação a cidade, do grupo e da mensagem que pretendem transmitir.

Quais são as vossas expectativas em relação a cidade e ao público?
Maliman - Nós gostaríamos que o público de Coimbra tivesse a mesma reacção que teve o público do Porto, que recebessem bem as letras, que consigam perceber a poesia dessas letras e o objectivo de cada letra. Gostaríamos que o público de Coimbra nos desse aquilo que nós temos para dar 
Buts Mc - O público para nós é essencial. Quando o público adere aquilo que fazemos e que temos para dar é a força, é a vontade que nós necessitamos. 
Allen Halloween - Há concertos onde está programado cantarmos meia hora mas por aquilo que as pessoas “dão”, ficamos lá uma hora, não interessa o orçamento ou o contrato que fizeste.

É a vossa primeira vez a actuar na cidade ou na região de Coimbra?
Buts Mc – Estivemos na Mealhada, depois do álbum ter saído e gostei a adesão do público e como o público nos recebeu. Ficou marcado como um concerto positivo, em que o público respondeu com força. 
Maliman - Não é porque o nosso nome transmite um feeling um pouco agressivo. Criminal Família transmite algo de muito pesado. Gostávamos que as pessoas pensassem que a Criminal Família é um bando de criminais, mas sim um bando de rapazes que fazem boa música, que querem chegar a um público através de uma mensagem. Gostávamos que o público percebesse que nós não somos más pessoas, somos apenas músicos. Gostaria que todas as associações académicas do país tivessem a mesma capacidade, a mesma visão da Associação Académica de Coimbra que organizou um concerto com este tipo de grupos que também têm uma voz, uma força. 

Quem são os Criminal Família?
Allen Halloween - Nós somos pessoas que cresceram nas periferias, nos bairros sociais de Lisboa. Se eu fosse outro tipo de pessoa e não aproveitasse alguns dons que a vida me deu, eu seria hoje em dia um desgraçado qualquer que até hoje estava a trabalhar nas obras.
Buts Mc - Muitas pessoas fogem e não têm noção daquilo que nós somos realmente. As pessoas imaginam, deduzem. Nós só queremos fazer música, somos músicos, falamos de uma realidade que está no nosso globo e que vivemos realmente.
Allen Halloween - Aquilo que as pessoas pensam e dizem de nós e das pessoas que fazem música contigo não interessa, às vezes eu aproveito a fama que me dão, mas isso, às vezes, nos prejudica em certas situações. Houve uma entrevista que me fizeram e perguntaram se eu achava que certas pessoas tinham medo de me convidar para dar concertos e eu disse não sei se essas pessoas têm medo de me convidar a mim ou se as pessoas têm medo de uma concentração de miúdos de bairro.

Pretendem passar alguma mensagem com a vossa música? Em que consiste essa mensagem?
Allen Halloween - A mensagem que normalmente eu passo as pessoas é a de que estas devem viver a sua vida. Eu não faço coisas para ser aceite na sociedade, eu estou a criar a minha própria sociedade. Por exemplo, em termos de calão, quando era miúdo as pessoas gozavam porque dizia “tá-se bem”. Hoje em dia até na televisão ao mais alto nível, ouve-se a expressão “tá-se bem”. Há muitos rappers que fazem música para que as pessoas pensem que eles são inteligentes. Nós já passamos desse movimento há muito tempo, nós estamos a criar a nossa própria sociedade. E isto não é arrogância, estou a viver a minha vida à minha maneira e desde que não interfira com a dos outros, não tenho que provar nada.

Quais são as vossas referências a nível nacional?
Allen Halloween - O único rapper em Portugal que possa dizer que nos tenha inspirado foi o General D. Em termos de música, existem duas coisas que é a mentalidade e a originalidade e, em termos de originalidade portuguesa, António Variações, Jorge Palma, Rádio Macau, UHF são artistas que são originais, não vão atrás de nenhum comboio. Muitas outras bandas são cópias de uma banda americana qualquer, não têm a sua própria originalidade.

E a nível internacional?

Allen Halloween - Crescemos a ouvir Tupac, Nirvana. Por exemplo, nós não nos vestimos muito brilhantes, estilo “bling bling”, isso também tem um bocado a ver com o grunge que eu ouvíamos, o que acaba por reflectir aquilo que somos. No princípio, juntávamos o útil ao agradável, hoje em dia, se calhar temos empresas que chegam ao pé de nós para patrocinar-nos e nós não queremos, gostamos de andar assim.


Fonte: A Cabra

Sem comentários: